Adaptação do desporto<br>como condição da sua democratização
A compreensão de que com a evolução quantitativa do fenómeno desportivo se deve verificar também uma transformação na própria concepção das suas práticas, é difícil, e muitos daqueles que são capazes de entender que algo de novo deve acontecer ficam perplexos perante a indispensável adaptação às novas condições da vida actual. Trata-se de uma situação natural na medida em que o modelo dominante constitui um obstáculo à própria inovação.
Os antigos praticantes, hoje dirigentes e técnicos, conheceram um único tipo de prática subordinada aos princípios orientadores que têm perdurado ao longo do tempo. A este «fixismo» do modelo herdado, vieram juntar-se as exigências da alta competição e a sua comercialização exacerbada. Tudo isto se tem oposto, nestes últimos 20 anos, à emergência de um processo facilitador do acesso às práticas numa perspectiva democratizadora autêntica.
Um exemplo, que julgamos claro, para ilustrar esta situação encontra-se naquilo que é designado normalmente por «desporto infantil». Deverão as formas de prática e os processos de preparação das crianças a partir dos 9/10 anos, ser idênticos (normalmente decalcados) às competições e ao treino dos atletas adultos?
Está hoje bem assente que não. Mas as formas e soluções perduram por mais que os educadores chamem a atenção para os prejuízos que daí advém para os praticantes em crescimento e para o próprio desporto. As cargas de esforço e os processos de aprendizagem, completamente desajustadas às características da 3.ª infância, da pré-adolescência e adolescência, «custam» ao praticante jovem muitas disfunções, e, por vezes, lesões irrecuperáveis de vários sistemas fisiológicos. A extrema tensão da hiper-competitividade a que são submetidas provoca não só o desgosto da prática, mas também cria situações graves do ponto de vista psicológico. Tudo isto agravado pelo facto cientificamente comprovado de que, realizada a formação desportiva deste modo se verifica uma fixação precoce de execução técnica (estereótipos motores) que se opõe à evolução futura do atleta, impedindo o pleno desabrochar das suas potencialidades.
Nesta situação é o indivíduo que é prejudicado, e o desporto fica a perder porque vê afastarem-se precocemente muitos dos possíveis futuros campeões. Mas, em termos ainda mais graves, são todas as qualidades tão enaltecidas em relação à prática desportiva, que são completamente postas em causa. Ou seja, é o desporto que perde a sua função social e põe em causa o seu valor formativo. Desta forma pode-se ver com clareza, que ele não é, em si mesmo e por si mesmo automaticamente valorizador do ser humano, constituindo antes, uma actividade cujo valor formativo e cultural deve ser «construído». Por isso se exige uma mudança profunda dos métodos de formação o que impõe uma formação adequada aos treinadores (especialmente aqueles que lidam com as camadas mais jovens de praticantes).
O que se diz em relação às crianças, é igualmente válido em relação aos «veteranos» (quantas vezes querendo repetir façanhas, ou reconquistar uma imagem perdida), aos portadores de deficiência e a todos aqueles que não se dedicam à prática da alta competição.
A verdade é que o desenvolvimento do desporto não se faz unicamente pelo aumento do número de aderentes. Como esperar que uma mulher adulta, preocupada em não «perder a linha» e atrasar os sinais do avanço da idade, se adapte a uma prática competitiva concebida para alcançar o máximo desempenho? Será que o idoso, desejoso de contactar com os outros e com a natureza, se revê numa prática em que perder ou ganhar é a questão central? E o próprio jovem que não deseja fazer do desporto a actividade central da sua vida, está disposto a viver uma tensão de uma competição «levada ao rubro» quando sabe que nunca poderá passar da mediania?
Naturalmente os representantes do «verdadeiro» desporto, competitivo e racionalizado ao mínimo pormenor, opõem resistência a estas mudanças. Isto mesmo quando se sabe que a sua prática competitiva não passa da reprodução, em via reduzida, da alta competição. E que as suas modalidades só teriam a ganhar em expressão quantitativa e qualitativa e valor social, se aceitassem e integrassem uma perspectiva de adaptação das actividades às necessidades de uma firmação correctamente concebida.
As questões sobre este problema das novas práticas e da indispensável alteração das próprias concepções orientadoras, constituem, hoje, uma preocupação central da democratização da actividade desportiva. Preocupação que recrudesce de importância e aprofunda o seu significado, quando se exprime no quadro da luta contra a segregação social das práticas.
Os antigos praticantes, hoje dirigentes e técnicos, conheceram um único tipo de prática subordinada aos princípios orientadores que têm perdurado ao longo do tempo. A este «fixismo» do modelo herdado, vieram juntar-se as exigências da alta competição e a sua comercialização exacerbada. Tudo isto se tem oposto, nestes últimos 20 anos, à emergência de um processo facilitador do acesso às práticas numa perspectiva democratizadora autêntica.
Um exemplo, que julgamos claro, para ilustrar esta situação encontra-se naquilo que é designado normalmente por «desporto infantil». Deverão as formas de prática e os processos de preparação das crianças a partir dos 9/10 anos, ser idênticos (normalmente decalcados) às competições e ao treino dos atletas adultos?
Está hoje bem assente que não. Mas as formas e soluções perduram por mais que os educadores chamem a atenção para os prejuízos que daí advém para os praticantes em crescimento e para o próprio desporto. As cargas de esforço e os processos de aprendizagem, completamente desajustadas às características da 3.ª infância, da pré-adolescência e adolescência, «custam» ao praticante jovem muitas disfunções, e, por vezes, lesões irrecuperáveis de vários sistemas fisiológicos. A extrema tensão da hiper-competitividade a que são submetidas provoca não só o desgosto da prática, mas também cria situações graves do ponto de vista psicológico. Tudo isto agravado pelo facto cientificamente comprovado de que, realizada a formação desportiva deste modo se verifica uma fixação precoce de execução técnica (estereótipos motores) que se opõe à evolução futura do atleta, impedindo o pleno desabrochar das suas potencialidades.
Nesta situação é o indivíduo que é prejudicado, e o desporto fica a perder porque vê afastarem-se precocemente muitos dos possíveis futuros campeões. Mas, em termos ainda mais graves, são todas as qualidades tão enaltecidas em relação à prática desportiva, que são completamente postas em causa. Ou seja, é o desporto que perde a sua função social e põe em causa o seu valor formativo. Desta forma pode-se ver com clareza, que ele não é, em si mesmo e por si mesmo automaticamente valorizador do ser humano, constituindo antes, uma actividade cujo valor formativo e cultural deve ser «construído». Por isso se exige uma mudança profunda dos métodos de formação o que impõe uma formação adequada aos treinadores (especialmente aqueles que lidam com as camadas mais jovens de praticantes).
O que se diz em relação às crianças, é igualmente válido em relação aos «veteranos» (quantas vezes querendo repetir façanhas, ou reconquistar uma imagem perdida), aos portadores de deficiência e a todos aqueles que não se dedicam à prática da alta competição.
A verdade é que o desenvolvimento do desporto não se faz unicamente pelo aumento do número de aderentes. Como esperar que uma mulher adulta, preocupada em não «perder a linha» e atrasar os sinais do avanço da idade, se adapte a uma prática competitiva concebida para alcançar o máximo desempenho? Será que o idoso, desejoso de contactar com os outros e com a natureza, se revê numa prática em que perder ou ganhar é a questão central? E o próprio jovem que não deseja fazer do desporto a actividade central da sua vida, está disposto a viver uma tensão de uma competição «levada ao rubro» quando sabe que nunca poderá passar da mediania?
Naturalmente os representantes do «verdadeiro» desporto, competitivo e racionalizado ao mínimo pormenor, opõem resistência a estas mudanças. Isto mesmo quando se sabe que a sua prática competitiva não passa da reprodução, em via reduzida, da alta competição. E que as suas modalidades só teriam a ganhar em expressão quantitativa e qualitativa e valor social, se aceitassem e integrassem uma perspectiva de adaptação das actividades às necessidades de uma firmação correctamente concebida.
As questões sobre este problema das novas práticas e da indispensável alteração das próprias concepções orientadoras, constituem, hoje, uma preocupação central da democratização da actividade desportiva. Preocupação que recrudesce de importância e aprofunda o seu significado, quando se exprime no quadro da luta contra a segregação social das práticas.